19 de mai. de 2010

Tempos de Convergência Tecnológica





No Brasil, há pelo menos um ano e meio, o debate sobre as mídias digitais estendeu-se da área tecnológica para o campo da Comunicação. Já não era sem tempo. Refletir sobre as mídias digitais está diretamente relacionado a outras questões, como as mídias enquanto fator de inclusão social e o direito a comunicação como um direito humano. Ou seja, como um direito de todos os cidadãos, independente de idade, religião, classe social, cultura, língua ou opção sexual.Pensar na convergência das mídias requer de todos aqueles que – como eu – fomos criados em ambiente analógico algo mais que uma mudança de postura. Requer um novo aprendizado e uma lógica de raciocínio facilmente encontrável entre as novas gerações. Essa reflexão é necessária porque a geração que está na casa dos 40 - que em geral ocupa cargos de chefia, gerenciamento, comando, pesquisa ou salas de aula - começou a usar computadores há 15 anos e começou a usar Internet há (pelo menos) 12 anos.

Isso significa que, enquanto as gerações entre 30 e 40 anos em diante aprenderam a desenvolver suas habilidades em tecnologia analógica, prestando atenção em uma coisa de cada vez, as gerações que hoje se encontram entre os 10 e 20 anos nasceram sob o signo das tecnologias digitais. E isso representa uma forma de pensar e estar no mundo radicalmente diferente das demais gerações.


Adolescentes e jovens de classe média e alta no Brasil premidos pela violência urbana fogem das ruas em direção aos shopping centers e são estimulados a usar o computador. Eles desenvolvem habilidades diferenciadas e atenção múltipla. Não apenas dominam a lógica dos computadores e seus diferentes programas e / ou games , como conseguem realizar várias atividades ao mesmo tempo.


Por exemplo: usam o MSN , conversam / escrevem com vários amigos de diferentes partes do mundo em tempo real ao mesmo tempo, usam webcams para se verem enquanto escutam música e preparam o trabalho do colégio. Tudo junto, compartilhando saberes e emoções sem sair da cadeira. As dimensões tempo e espaço se expandem e, para adolescentes e jovens, já não interessa se há greve dos correios, mas sim garantir que a luz e o telefone estejam em dia para poderem estar conectados à rede.Mas o uso de Internet, a gravação de músicas, o envio de materiais (arquivos de imagens, texto ou música) para amigos, o acesso a páginas de informações, blogs ou comunidades como o Orkut , não podem ficar restritos aos 14% da população que tem acesso aos computadores em casa ou aos outro 12% que tem acesso no local de trabalho, nas escolas e universidades ou nos telecentros (um total de 26%, segundo dados do governo federal de 2005).


As mídias digitais e a convergência tecnológica têm uma função importante no acesso e apropriação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC's) e na inclusão social da população. Elas podem representar fonte de renda, de valorização da identidade e da cultura local que contribuem para definir a comunicação como um direito alienável dos seres humanos.O caso do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) é um bom exemplo da prioridade em eleger um sistema que possibilite a apropriação das TIC's pela população. O SBTVD - que atualmente está na fase de estudos de campo - vem sendo desenvolvido por 76 instituições, entre fundações e universidades de caráter público ou privado e conta com cerca de 1500 pesquisadores de todo país. A idéia é usar uma caixa conversora (igual à utilizada pelas televisões por assinatura, como a NET) que transforme a TV analógica que possuímos em casa em TV digital.

Isso possibilitará a partir de 2006 que os 92% de lares que possuem televisão analógica possam transformar seus aparelhos em digital com um custo entre 30 e 90 dólares, permitindo a universalização . O SBTVD prevê sistema digital standart, mais simples que a TV de alta definição (HDTV), usada no modelo norte-americano, mas muito mais barata e acessível aos padrões brasileiros. Além disso, é escalável , ou seja, permite que os interessados possam modificar o sistema para HDTV. Também permite a interatividade , algo que os sistemas norte-americano e o japonês anunciaram, mas não desenvolveram e que está valendo duras críticas em seus países de origem, principalmente nos EUA.
A novidade é poder dar ampla utilidade a TV que todos temos em casa. Além da função de assistir notícias, telenovelas ou filmes, o SBTVD vai permitir o acesso às contas bancárias (e-banco), a educação à distância (e-educação), a marcar consultas pela Internet (e-saúde) e o e-mail comum através de controle remoto. Também poderá permitir a interatividade com os programas de TV, onde a audiência poderá dialogar com os produtores.

A inovação do SBTVD é aproveitar o parque de televisores analógicos no país transformando-os em digital a baixo custo, reduzindo o pagamento de royalties , pois a tecnologia é local, e oferecendo produtos em código aberto para toda região. Além disso, possibilita o desenvolvimento de um parque industrial e de uma indústria criativa que abra espaço às novas gerações produzirem conteúdos no campo do entretenimento, da educação e da informação, como vem ocorrendo na Irlanda e na Finlândia. E se pensarmos que a convergência tecnológica inclui conteúdos para TV, Internet, rádio, cinema e celulares em conjunto ou separadamente, há um amplo campo a ser explorado na área da produção audiovisual.



por Profª Drª Cosette Castro
Coordenadora de Estágio e Pesquisa/
TV DigitalFund. Pe. Urbano Thiesen - TV Unisinos
cosette@unisinos.br

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